Não te vou procurar...

Querido R.

Foste tão importante para mim que não consigo ter maus pensamentos a teu respeito…
E prefiro pensar que viajaste, que estás incontactável e que estas partículas que existem no silêncio talvez cicatrizem a minha dor até à extinção da lembrança ou me devolvam uma explicação lógica em que consiga acreditar.
Sempre analisaste a realidade de forma exímia e cheia de discernimento….e eu não me apercebi de era um assunto proibido fosse falar dos teus gestos e do que eu sinto /senti perante eles.
Senti a tua falta, a tua indiferença a tua ausência nos momentos presentes e quis falar-te disso… com a esperança que a nossa estrutura fosse inabalável, com a esperança que lesses a realidade e a verdade com os meus olhos, com a esperança de que quando dizias que éramos almas companheiras fossem para valer, com a esperança de que as mensagens que me enviavas a meio da noite quando estavas meio embriagado fossem verdadeiras. Mas tu sacudiste-me, sentiste que fui inconveniente, que invadi o teu espaço e por isso despachaste o assunto com a facilidade de um gesto mecânico. Não quiseste sequer discutir e eu cheguei a pensar que as pessoas que discutem têm a sorte de terem alguém do outro lado aflito por expor outro modo de leitura, ainda que os argumentos sejam descabidos ou soem a falso… e por isso, eu teria preferido ter discutido a sentir que a nossa amizade (ou o fim dela) fosse comparada a uma embalagem descartável e resolvida de forma civilizada.
E sabes o mais curioso? Não me arrependo… não me arrependo porque agi de coração, porque não consigo fingir que está tudo bem para evitar conflitos, porque se não te mostrasse o quanto me estavas a magoar estaria a trair a transparência que sempre tive contigo.
E percebo que os amigos são as pessoas que escolhemos e a quem confiamos o código secreto da nossa conta emocional. Num segundo eles podem fazer um desfalque, num segundo eles podem depositar uma fortuna. O mais importante é termos capacidade para confiar de novo o código, mesmo que traga risco associado e pior que uma quebra emocional é um coração enrijecido.
Fazes-me falta! Mas não te vou procurar…não por alimentar orgulho desmedido…(se sempre te expus as minhas fraquezas e fragilidades porque me armaria em forte, logo agora?!!) mas porque abalaste a confiança de tudo o que vivemos e do lugar que te concedi.
Não te vou procurar… porque sei que não vou encontrar o que perdi!

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